Müsteiro

Chuva em Novembro, Natal em Dezembro.

31.3.05

"Putos moles" ou "O Tom Sawyer salvou a minha geração"

Recebi este e-mail há mais de um ano e resolvi reciclá-lo aqui. Tenho a certeza que vai despertar pelo menos uma pontinha de nostalgia em muitos (os mais velhos...). Se não tanto, pelo menos vai fazer pensar...

"Em conversa com o irmão mais novo de um amigo, cheguei a uma triste conclusão. A juventude de hoje, na faixa que vai até aos 20 anos, está perdida. E está perdida porque não conhece os grandes valores que orientaram os que hoje rondam os trinta.
O grande choque, entre outros nessa conversa, foi quando lhe falei no Tom Sawyer. "Quem?", perguntou ele. Quem?! Ele não sabe quem é o Tom Sawyer! Meu Deus...Como é que ele consegue viver com ele mesmo? A própria música: "Tu que andas sempre descalço, Tom Sawyer, junto ao rio a passear, Tom Sawyer, mil amigos deixarás, aqui e além..." era para ele como o hino senegalês cantado em mandarim.


Tom Sawyer com o seu fiel amigo Huck "Tom Sawyer"

Claro que depois dessa surpresa, ocorreu-me que provavelmente ele não conhece outros ícones da juventude de outrora. O D'Artacão, esse herói canídeo, que estava apaixonado por uma caniche; Sebastien et le Soleil, combatendo os terríveis Olmecs; Galáctica, que acalentava os sonhos dos jovens, com as suas naves triangulares; O Automan, com o seu Lamborghini que dava curvas a noventa graus; O mítico Homem da Atlântida, com o Patrick Duffy e as suas membranas no meio dos dedos; A Super-Mulher, heroína que nos prendia à televisão só para a ver mudar de roupa (era às voltas, lembram-se?); O Barco do Amor, que apesar de agora reposto na Sic Radical, não é a mesma coisa. Naquela altura era actual ...
E para acabar a lista, a mais clássica de todas as séries, e que marcou mais gente numa só geração: O Verão Azul. Ora bem, quem não conhece o Verão Azul merece morrer. Quem não chorou com a morte do velho Shanquete, não merece o ar que respira. Quem, meu Deus, não sabe assobiar a música do genérico, não anda cá a fazer nada.

A pandilha d'«O Verão Azul» "El Verano Azul"

Depois há toda uma série de situações pelas quais estes jovens não passaram, o que os torna fracos. Ele nunca subiu a uma árvore! E pior, nunca caiu de uma. É um mole. Ele não viveu a sua infância a sonhar que um dia ia ser duplo de cinema. Ele não se transformava num super-herói quando brincava com os amigos. Ele não fazia guerras de cartuchos, com os canudos que roubávamos nas obras e que depois personalizávamos. Aliás, para ele é inconcebível que se vá a uma obra. Ele nunca roubou chocolates no Pingo-Doce. O Bate-pé para ele é marcar o ritmo de uma canção. Confesso, senti-me velho ...
Esta juventude de hoje está a crescer à frente de um computador. Tudo bem, por mim estão na boa, mas é que se houver uma situação de perigo real, em que tenham de fugir de algum sítio ou de alguma catástrofe, eles vão ficar à toa, à procura do comando da Playstation e a gritar pela Lara Croft. Óbvio, nunca caíram quando eram mais novos. Nunca fizeram feridas, nunca andaram a fazer corridas de bicicleta uns contra os outros.
Hoje, se um miúdo cai, está pelo menos dois dias no hospital, a levar pontos e a fazer exames a possíveis infecções, e depois está dois meses em casa a fazer tratamento a uma doença que lhe descobriram por ter caído. Doenças com nomes tipo "Moleculum infanticus", que não existiam antigamente. No meu tempo, se um gajo dava um malho (muitas vezes chamado de "terno") nem via se havia sangue, e se houvesse, não era nada que um bocado de terra espalhada por cima não estancasse. Eu hoje já nem vejo as mães virem à rua buscar os putos pelas orelhas, porque eles estavam a jogar à bola com os ténis novos.
Um gajo na altura aprendia a viver com o perigo. Havia uma hipótese real de se entrar na droga, de se engravidar uma miúda com 14 anos, e apanharmos tétano num prego enferrujado, de se ser raptado quando se apanhava boleia para ir para a praia. E sabíamos viver com isso. Não estamos cá? Não somos até a geração que possivelmente atinge objectivos maiores com menos idade? E ainda nos chamavam geração "rasca" ... Nós éramos mais a geração "à rasca" , isso sim. Sempre à rasca de dinheiro, sempre à rasca para passar de ano, sempre à rasca para entrar na universidade, sempre à rasca a ver se a namorada estava grávida, sempre à rasca para tirar a carta, para o pai emprestar o carro. Agora não falta nada aos putos.
Eu, para ter um mísero Spectrum 48K, tive que pedir à família toda para se juntar e para servir de prenda de anos e Natal, tudo junto. Hoje, ele é Playstation, PC, telemóvel, portátil, Gameboy, tudo. Claro, pede-se a um chavalo de 14 anos para dar uma volta de bicicleta e ele pergunta onde é que se mete a moeda, ou quantos bytes de RAM tem aquela versão da bicicleta.
Com tanta protecção que se quis dar à juventude de hoje, só se conseguiu que 8 em cada dez putos sejam cromos. Antes, só havia um cromo por turma. Era o tóto de óculos, que levava porrada de todos, que não podia jogar à bola e que não tinha namoradas. É certo que depois veio a ser líder de algum partido, ou gerente de alguma empresa de computadores, mas não curtiu nada.
Hoje, se um puto é normal, ou seja, não tem óculos, nem aparelho nos dentes, as miúdas andam atrás dele, anda de bicicleta e fica na rua até às dez da noite, os outros são proibidos de se dar com ele.
"

Gostava sinceramente de apertar a mão ao anónimo que escreveu este texto. É de facto alarmante ver as crianças e jovens que temos hoje em dia, que cresceram tendo como modelos os mentalmente limitados concorrentes dos Big Brother's e afins, e divertindo-se com séries televisivas incompreensíveis dobradas em português ou jogos de computador que os sedentarizam numa cadeira. Não podem espirrar que é logo um "ai jesus", se um miúdo é vivaço espetam com ele num psicólogo porque tem um desvio comportamental, não se lhes pode ralhar ou sequer corrigir um exercício a vermelho porque os pode marcar psicologicamente...
Tenham dó... Quem gosta dos seus filhos, mande-os para a rua brincar, correr, sujar-se, cair, magoar-se, levantar-se outra vez, enfim... VIVER! Podemos não conseguir mudar os valores da sociedade actual, mas é mais que possível incutir nos mais jovens valores mais saudáveis...

3 Comments:

Blogger Ricardo Fonseca disse...

Porra, teletransportaste-me para uns 18 anos atrás.
Este texto está fantástico, descreve mesmo a verdadeira geração do penso no joelho.
Mas o pior Müs, é que os tótos de agora vão ser os durões do amanha, e por este andar daqui a 30 anos é tudo maricas...

12:21 da manhã  
Blogger Müs disse...

Querida priminha, eu sei que tu és uma excepção, porque na nossa família até nem me admira que a Margarida e a Carolina conheçam estes desenhos animados...
Claro que isso se deve à geração de progenitores/professores que esteve antes de nós... não têm conto as coisas que aprendemos com eles e os bons valores que nos incutiram, muitas vezes indirectamente através destes bonecos a que assistíamos juntos.
É engraçado porque há dois dias saquei a música do Tom Sawyer na net e, nessa altura, ainda não tinha pensado neste post. Já não me lebrava de nada a não ser do refrão...
Quanto à parte do "penso no joelho", temos que agradecer E MUITO as origens humildes da nossa família, que nos permitiram crescer com uma liberdade e num ambiente saudável que não seriam possíveis se não fosse num lugar como Guilhafonso (isso já vale mais para mim do que para ti e a tua irmã, mas também se aplica).
Diz aos teus pais para lerem este post, gostava de saber o que achavam...
Beijinhos e obrigado pela cantoria!!!

3:26 da manhã  
Anonymous Anónimo disse...

O texto está genial...Realmente os putos de hoje em dia já quase não sabem o que são aqueles jogos de rua que era basicamente tudo o que tínhamos. Lembro-me que tem tinha computador era um priveligiado, e do que foi quando apareceram as primeiras consolas e o gameboy. Acho sinceramente que tivémos uma infância muito mais saudável...

7:15 da tarde  

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