Müsteiro

Chuva em Novembro, Natal em Dezembro.

28.3.05

Sonos

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Numa altura em que já pouco passa pela minha cabeça (a não ser os lençóis que esperam por mim e o best-seller que aguarda na mesinha de cabeceira a leitura dos últimos capítulos), a sonolência própria da hora tardia pôs-me a pensar em duas expressões que utilizamos correntemente para descrever o momento em que o peso das pálpebras vence a nossa vontade: "adormeci" e "deixei-me dormir".
Como muitos saberão (e decerto já pensam com um sorriso nos lábios), esta segunda é frequentemente utilizada na nossa região do interior ostracizado e algumas vezes alvo de chacota pelos pseudo-bem-falantes (que são, na maioria das vezes, os que dão pontapés violentos na nossa já maltratada Língua Portuguesa).
Quase involuntariamente utilizo a referida expressão, fruto de um hábito enraizado ao longo de anos. Porém, neste caso (excepcional), dou a mão à palmatória e reconheço a sua inadequação (não se tratando no entanto um erro, note-se). A expressão "adormecer" descreve a situação com uma única palavra, praticamente sem lacunas ou incorrecções, porque é o que efectivamente sucede: adormecemos!
Por outro lado, o "deixar-se dormir" é um tanto ao quanto ridículo... Uma pessoa que cai involuntáriamente no sono não deixa coisa nenhuma: ela pura e simplesmente não o controla. Quem deixa que algo aconteça é porque o permite e teria, supostamente, a possibilidade de o evitar, o que não é o caso.

Não quero chegar a lado nenhum com esta curta "dissertação", uma vez que a iniciei a partir de uma ideia um pouco vaga, sem ter qualquer espécie de punchline na minha cabeça. Aguardo as vossas opiniões acerca desta dicotomia da língua-mãe, e por aqui me fico. Sim, porque já é bastante tarde e eu estou quase a deixar-me dormir...

(Aproveito este post para vos apresentar o Ozzy, um exemplar canino de grande simpatia que ainda há-de ser protagonista de alguns posts futuros...)

3 Comments:

Anonymous Anónimo disse...

Como pessoa do Norte e da Costa, reconheço que damos muitos e dolorosos pontapés na nossa gramática. No entanto, vocês com algumas das vossas expressões, vencem tudo isso! "Deixar-me dormir..." Realmente... Não é mais fácil dizer "adormecer" visto que, em concordância plena, é um acto involuntário, que não se controla? E onde é que já se viu dar os "bons dias"?! O dia é só um, amanhã dá-se outra vez... E porque é que as coisas estão "além" e não "ali"? É mesmo uma coisa do outro mundo... ;) Porta-te...

1:57 da tarde  
Blogger Müs disse...

Cara Alfacinha:
As nossas expressões podem ser estranhas e até um pouco caricatas a quem está de fora, mas de modo algum podem ser consideradas "pontapés" na gramática.
"Dar os bons dias" não é só utilizada no interior e sim por todo o país (talvez com excepção de Alvito S. Pedro...).
Quanto às palavras "ali" e "além", são completamente distintas e aplicáveis a diferentes situações, como o dicionário facilmente nos permite verificar: "ali" indica "naquele lugar", enquanto que "além" exprime a ideia de "para o lado de lá de", a não ser que seja escrita com maiúsculas - nesse caso refere-se obviamente ao bíblico "pós-morte". Bastante distintas então...
Um dia destes escrevo um post acerca da utilização do "vocês" e do "vós" como 2ª pessoa do plural... depois diz-me quem achas que está errado... :)

10:34 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Para terminar:
Podes ter uma certa razão com "os bons dias" e o "ali e além", no entanto se consultares correctamente o dicionário lá refere que "ali" é classificado como advérbio, no entanto "além" não tem classificação! Apenas é referido como elemento de composição que, realmente, exprime a ideia de "para lá de" (ex; além-mar, além-túmulo...) claro que não exceptuando o seu uso simples. No entanto, fico com a ideia que o seu uso simples não é completamente correcto! ;) és teimoso mas eu também sou! :) E lá por Alvito S. Pedro, terrinha esquecida, até se fala muito bem... Era só para concluir! Porta-te bem...

5:20 da tarde  

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