Müsteiro

Chuva em Novembro, Natal em Dezembro.

15.4.05

Electricidade

My electricity

Esta palavra vem-me à cabeça (e aos meus acompanhantes de viagem, principalmente uma certa Outeirense...) cada vez que o meu carro resolve descarregar a estática acumulada nas mãos desprotegidas de quem, finda a viagem, se retira do veículo e tenta fechar a porta. Como que insatisfeito pelo término da viagem, a viatura descarrega um choque (não tecnológico como o de Sócrates) nos seus ocupantes que se ausentam.
Já toda a gente teve essa sempre inesperada experiência. Acontece mesmo ao cumprimentar ou beijar alguém, por um qualquer fenómeno complexo de polaridades incompatíveis, que se revelam por um simples toque de mãos ou pelo contacto da pele.
Ao falar de electricidade vêm-me também à memória as histórias contadas pelas gerações anteriores, de quando a electricidade era uma novidade, uma "magia" inexplicável, que permitia iluminar as noites que até então apenas se aclaravam perto da chama. Nesse distante ano de 1980 (completava eu o primeiro ano de vida), o acontecimento da chegada da luz eléctrica foi rodeado de festa: após o meu bisavô Chalo (grande apelido!) ligar o interruptor pela primeira vez, honra que lhe foi concedida por ser a pessoa mais velha da aldeia, seguiu-se um animado baile para comemorar a chegada da inovação às casas de todos.
Apesar de, a partir daí, terem começado a lidar quase diariamente com a electricidade, o funcionamento dos aparelhos eléctricos constituía ainda um grande mistério para todos, pelo que o "factor magia" continuou intimamente ligado a ela. Não consigo disfarçar um sorriso cada vez que recordo as palavras da minha avó que, intrigada com as habilidades acrobáticas de certos artistas de circo que víamos na televisão, avançou prontamente a sua explicação:
- "Oh, isso eles untam-se com electricidade...!"
Não há argumentos para rebater isto...