Müsteiro

Chuva em Novembro, Natal em Dezembro.

4.10.06

Sons que chegam

É comum dizer-se que, no espectro musical, todos os estilos já estão inventados. Isto é sinónimo de dizer que qualquer nova criação musical é quase de imediato colocada num dos grupos já existentes, qual classificação das espécies (não me surpreenderia se existissem já chaves dicotómicas para o efeito...). Por vezes esse "rótulo" é colocado logo na fonte, outras vezes é no destino. Mas, apesar de muitos artistas a recusarem (por receio de "limitar" a música que fazem), é inevitável que essa catalogação seja feita, pois todos nós sentimos a necessidade de efectuar comparações, talvez para sabermos em que terrenos nos estamos a deslocar.

No exercício nem sempre fácil de educar os ouvidos para as novas músicas que nos vão chegando às mãos, ocasionalmente descobrimos bandas conseguem, se não surpreender-nos, pelo menos cativar a nossa atenção e fugir à banalidade. Sou da opinião que cada álbum com um mínimo de qualidade tem algo para nos revelar, se lhe dermos a devida atenção (e sobre isto o senhor Mono escreve umas coisas muito acertadas).

Não pretendo obviamente dizer a ninguém como ouvir música (e muito menos que música ouvir). Cada pessoa encara a música de uma forma, e cada pessoa tem os seus gostos. Mas os gostos discutem-se, e muito. Porque a música tem muito de subjectivo, mas também tem algo de objectivo. E é objectivo que muita gente só ouve merda.

Adiante. Deixo aqui umas propostas que tenho ouvido recentemente e me pareceram bastante interessantes. Espero que ouçam, e que gostem.

Hyubris - "Hyubris" -> Estes portugueses do Tramagal trazem música de um género que invadiu os tops no ano transacto. Porém, apesar de tocarem metal com uma voz feminina à cabeça, não se pense que seguem os caminhos traçados por Within Temptation, Nightwish, e muito menos Evanescence. A voz da soprano Filipa pode em algumas alturas causar estranheza, mas é bem mais do que capaz de nos arrepiar. A maioria dos temas são cantados em português, o que dá um travo especial às histórias de fadas, ninfas e personagens mitológicos. Destaque para os temas "Terpsícore", "Segnis" e para a versão da "Canção de Embalar", de Zeca Afonso.

Place Of Skulls - "The Black Is Never Far" -> Os riffs pastosos e arrastados trazem de imediato um nome à cabeça: os grandes Black Sabbath. Claro que não se ouve o tom esganiçado do avô, o que até acaba por ser positivo. Juntando-lhe um toque de modernidade, a música dos Place Of Skulls adquire laivos do stoner rock dos Corrosion Of Conformity e do tom depressivo dos Alice In Chains, o que resulta em grandes temas como "The Black is Never Far", "We the Unrighteous" ou "Looking for a reason". A melhor música do álbum é, sem dúvida, "Darkest Hour", que se cola aos ouvidos sem ser catchy, e deixa vontade em conhecer mais desta banda.

Stonegard - "Arrows" -> Esta banda, para além de ser um caso sério, é também um caso típico daquelas bandas que se esquiva aos rótulos. Ouça-se a faixa-título: heavy metal, hard rock, black metal (!) e até um trecho que se assemelha a uma balada. Tudo na mesma música. E resulta! A música dos Stonegard não conhece barreiras, e não se coíbem de misturar o que lhes dá na gana em temas com pelo na venta, conseguindo fazer com que tudo soe, simplesmente, a rock&roll do bom! Não será exagero dizer que esta banda tem algo que pode agradar a todos os fãs de música pesada. Destaque para "Resistance" e "Barricades", apenas para referir duas.

Circulus - "The Lick On The Tip Of An Envelope Yet To Be Sent" -> Para o fim, fica o mais invulgar. Se bem que os fãs acérrimos de rock progressivo poderão delirar com este disco, a outros poderá causar uma certa estranheza. Nomes como Jethro Tull e Genesis (de Peter Gabriel) vêm-nos à memória ao escutar este álbum, em músicas que tanto nos levam a ambientes medievais como a seguir nos enchem de sons que nada têm de antigo. "The Lick..." é um álbum que tenta alcançar a crueza dos primórdios do art rock, tendo um som próximo dos primeiros álbuns de Camel, Caravan, ou das bandas já referidas. Consegue-o, mas apenas a espaços, intercalando temas bastante minimais com outros bastante experimentais, pontuado com temas que nos transportam ao início dos anos 70. Apesar de não totalmente bem sucedido, é um álbum muito interessante e aconselhável a quem gosta de, por momentos, viajar até tempos passados.

Por aqui me fico. Outros haveria a referir, mas o tempo não permite. A quem se der ao trabalho de ouvir, agradecem-se os feedbacks. Ou outras sugestões.