Não resisti a postar aqui um texto de Vítor Serpa, publicado no jornal
A Bola (pronuncia-se A B
ôla) do dia 3 de Março de 2007.
Torna-se cada vez mais óbvio que os professores são uma classe enxovalhada. Primeiro pelo governo, que invocou razões de várias ordens (correctas ou não - é mais a segunda, mas adiante) para as alterações penalizantes do Estatuto da Carreira Docente. Depois, pelos pais dos alunos. Aí, sem qualquer razão que possa justificar tal atitude, seja ela de índole física ou apenas verbal.
Qualquer professor (digno desse nome, já lá vamos aos que não se incluem neste grupo) tem bem presentes em si princípios éticos e morais, bem como as responsabilidades que a profissão acarreta. Ter a cargo uma turma de 20/30 crianças ou jovens ao longo de um ano lectivo (muitas vezes mais) com a tarefa de os disciplinar, formar e educar só é trabalho fácil para quem nunca o fez. Difícil é também, para um professor, ser preguiçoso (como são rotulados de forma geral actualmente). A carga de trabalho da profissão de docente obriga a que as tarefas sejam continuadas após o horário de trabalho: preparando aulas e material, corrigindo provas, redigindo relatórios - tudo tarefas que não têm horário próprio para serem realizadas. Logo, não se trata de um emprego que possamos largar às 6 da tarde e retomar apenas na manhã seguinte. Preguiçosos? Não. Cansados? É bem possível.
Há concerteza ovelhas negras. Mais do que seriam desejáveis. Mas em todas as profissões existem "patrões", e uma das suas funções é certificar-se de que os seus subalternos cumprem as suas. Quando isso não acontece, não é à arrogância dos progenitores que cabe intervir, e sim aos superiores dos professores. Quando um docente não se mostra capaz de leccionar eficazmente, é porque houve falhas na sua formação e lhe foi colocado um canudo nas mãos indevidamente. Mas não são os pais (que provavelmente não têm habilitações mínimas para se manifestarem sobre as matérias em questão) que têm que o pôr no seu lugar. Quando um professor adopta uma postura mais rígida para tentar disciplinar (ou pelo menos conseguir leccionar) uma turma ou um aluno indisciplinado e um pai/mãe se insurge contra a "tirania" do docente, este progenitor confirma quase sempre a educação desregrada que caracteriza a sua mal-educada cria.
No caso muito próprio da Educação Física, vive uma luta cada vez mais desigual contra o sedentarismo e consequente obesidade (que é cada vez mais seguida da palavra infantil). Muitos gostariam de a eliminar, porque é incómoda, porque os meninos vão para as salas a cheirar a suor, porque baixa as médias e os meninos querem ir para medicina, porque... Não vão conseguir eliminar a Educação Física dos currículos do ensino básico e secundário, mas resta saber quanto tempo mais vai ser tratada como uma disciplina de segunda. Quanto tempo mais vai continuar a ser pejorativamente chamada de "ginástica". Porque longe vai o tempo em que ser professor era considerado uma profissão de prestígio: como a Educação Física, ser professor é de segunda. Enquanto não fôr pior.
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