Não quero transformar o Musteiro num blog de comentários musicais, mas mais uma audição deste álbum obrigou-me a partilhá-lo convosco, sob pena de me sentir culpado para o resto da minha vida e a descarregar continuamente em vasilhame Sagres de 0,20 l.
Para quem já teve algum contacto com o trabalho desta banda de Estocolmo, já sabe qual é o calibre que se espera deste álbum. Para quem não conhece, fica a informação: os Opeth formaram-se em 1990, quando os guitarristas Peter Lindgren e Mikael Akerfeldt recrutaram um baixista e um baterista (Johan de Farfalla e Anders Nordin, que foram posteriormente substituídos por Martin Mendes e Martin Lopez) para formar uma banda de death metal de influências progressivas. Estas influências do art-rock dos anos 70 são visíveis não só nas orquestrações clássicas e instrumentações acústicas, mas também na duração dos temas: não são raras as faixas com mais de 10 minutos de duração. E, ao contrário do que possa parecer, não farta - sabe a pouco. E não se assustem os detratores de todos os géneros musicais que são precedidos de um hífen e da palavra metal. Os Opeth têm peso e distorção? Sim. Têm vocalizações rasgadas/grunhidas? Frequentemente. Isso retira beleza e perfeicção à sua música? Até agora, ainda não sucedeu. Quem escutar com atenção, com "ouvidos de ouvir", chegará à conclusão que tudo encaixa como se de uma composição clássica se tratasse. Porque não está muito longe de o ser.
Os álbuns de Opeth foram então sucedendo-se, num crescendo de qualidade, que atingiu um pico nos álbuns de 2001 e 2002, Blackwater Park e Deliverance, respectivamente. Damnation marca a carreira da banda pela diferença: a ausência de distorção e de vocalizações mais puxadas praticamente os afasta da sua costela death, remetendo-os para uma vertente clássica, como o rock sinfónico.
Neste álbum destacam-se as guitarras, acústicas e eléctricas, a conduzir as melodias pela parte mais baixa da pauta, que se misturam na perfeição com o tom grave da voz de Mikael Akerfeldt. A produção do genial Steve Wilson (vocalista de Porcupine Tree - ver post abaixo) permite que nos deliciemos com a força desta música, sem que a distorção esteja presente, e com uma tal pureza de som que possibilita que consigamos ouvir os próprios dedos a deslizar nas espirais das cordas... Acreditem, é único.
Os sentimentos predominantes em Damnation são a tristeza e a melancolia, e não é necessário prestar atenção às letras para o perceber. Sente-se a cada nota, a cada acorde, ao longo das oito faixas. Desde a primeira, Windowpane, percebe-se que a guitarra impera. Em Death Whispered a Lullaby damos por nós a entoar o carinhoso refrão "Ooh... sleep, my child...", enquanto que em Closure sentimos um vento quente vindo do deserto, que antecede o passar de uma cáfila. Hope Leaves devolve-nos a um profundo sentimento de perda, que aumenta até se tornar sofucante em To Rid The Disease. O fade in de Ending Credits remete para um rock progressivo mais clássico, sendo que é a única faixa totalmente instrumental do álbum. A alguns poderá, ainda que estranhamente, fazer lembrar Carlos Santana, sem o salero. Weakness serve como uma espécie de despedida, em que a voz se encontra já longe, esbatida, e termina o álbum com as mesmas cores que começou.
Dizem que Portugal é um país triste, saudosista, e este é um bom álbum para quem se sente um pouco nostálgico. Quem o ouvir sem preconceitos e lhe der uma chance de repousar nos ouvidos, vai por certo adoptá-lo como um companheiro em dias de chuva, de sorrisos ausentes. Arrisco mesmo dizer que, se o fado tivesse nascido na Suécia, soaria algo parecido com este álbum.